Contrastes



Alguns aspectos técnicos começam a tomar forma, já nesse momento do nosso processo.

Ainda estamos na fase embrionária do trabalho, investigando movimentos, selecionando formas e impulsos, construindo partituras... Assim, vou-me amalgamando mais e mais em meu corpo, buscando e redescobrindo motivações que estavam intimidadas.

Mas a força com que tanta coisa tem vindo a tona, faz com que eu consiga aos poucos romper algumas bases e me desvanecer no movimento. Esse trabalho tem me dado muita força! Para ir um pouco além, para me desafiar, me "des-constranger"...

É engraçado mas, apesar da intimidade que tenho com meus diretores, em distintas esferas, ainda me sinto constrangido. Então, me pergunto porquê. E logo sei a resposta e me dou conta de sua óbvia e ingênua verdade: estou me desnudando.

É uma vergoinha que sinto ao ter que mostrar alguma cena. Um calafriozinho que surge quando tenho que experimentar algo ali, imediatamente, sem ter clareza do que vai vir. Uma espectativa de aprovação ou reprovação...

Mesmo assim, me sinto forte. Forte e destemido para seguir - mesmo mancando com a coxa distendida, mesmo com o menisco travando, mesmo com as costas rasgando! E querendo mais, mais e mais.

Por isso, nessa minha mania de escrever parágrafos de três ou quatro linhas, queria registrar hoje muito mais meu movimento interno do que propriamente aquilo que aparece. Porque tenho sentido tantas coisas, que alguns parágrafos não serão suficientes.

E só sinto possível tudo isso não apenas pela minha vontade em fazer um trabalho de qualidade, mas pela qualidade com que tenho sido cerceado pelas pessoas que estão perto.

Fundamental tem sido o acompanhamento das pessoas do meu grupo. A ajuda que a Liz me dá para decorar os textos da "Mãe". A companhia que o Bruno me faz às vezes para aquecer, assim como suas tão sensatas opiniões e sugestões. O olhar sempre tão curioso e interessado da Renata e sua disposição para ajudar. Olhares cúmplices da Nina...

Mas, de todos, a quem eu mais devo agradecimento é à Lucilla. Pelo seu peso ao me alongar e quase me quebrar ao meio (mas me mostrar que estou indo, e sofrer comigo!). Pela abertura que SE permitiu ao acatar minhas nem sempre inspiradas reclamações. Ao ter de abandonar alguns princípios em consequência de outros para se redescobrir... Buscar e trazer coisas novas e, juntos, vermos o quanto dá certo! E deixar fluir com uma relação que transpõe o trabalho técnico mas não perde em exigência e rigorosidade.

E, claro: Max. Como é bom compartilhar esse momento com ele! Retribuir a confiança e o respeito com que tem conduzido o trabalho, mesmo quando é à distância. A generosidade em ouvir, trocar e - principalmente - provocar!

Daí pra frente, é só alimentar a espectativa de que tudo continue árduo mas poético, duro mas flexível, instigante e revelador.

Eu continuo muito empolgado!



Por Cristóvão de Oliveira

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