VIVENDO EM VELOCIDADE!

"Sou rápido, logo, existo!"
(Anarquia, personagem de Fotomatón, escrito por Gustavo Ott)















Vivemos em velocidade. Isso é fato. Mas a pergunta é: Nos damos conta disso? Nos damos conta que no dia-a-dia fazemos milhares de coisas diferentes por algum motivo, por alguma razão ou por puro costume?

Creio que não.

Nessa semana que passou, trabalhamos bastante com um personagem do espetáculo que faz apologia da velocidade... e junto com ela, da violência. (Como se fosse necessário!) Segundo ele, o mundo só poderá melhorar se conseguirmos fazer com que a raça humana deixe de existir. Em meio a sua cena/manifesto me peguei pensando em como o autor conseguiu tratar, mesmo que em um registro de comédia, fazer um retrato tão claro da sociedade em que vivemos. Hipérboles a parte, me peguei tendo um deja-vú ali na sala de ensaio. Dando-me conta das milhões de coisas que, todos os dias, faço e deixo de fazer. De como seria necessário que o dia tivesse 36 horas para dar conta de todos os meus compromissos e/ou eu começar a ter clareza de minhas limitações e reduzir o ritmo.

Diminuir o ritmo. Sintetizar o pensamento.

Adoro esse momento do processo em que o texto começa a "me fazer pensar".

De certa forma, sempre fiz Teatro para isso. Para pensar "meu" mundo. Para tentar entender as razões de minhas ações. Para entender o mundo e entender-me. Não adiantou! Quanto mais faço espetáculos, mais perguntas aparecem na minha cabeça. Mas, não me preocupo com isso. Se quisesse verdades absolutas teria ido fazer "exatas".

Ao mesmo tempo, vejo que um mesmo texto pode "tocar" as pessoas de maneira diferente. É essa a riqueza da sala de ensaio. Encontrar mil leituras possíveis para uma mesma obra. Transformar essas leituras em possíveis formalizações. Escolher uma dessas leituras para levar até o público. Ou não. Trabalhar para que o texto fique o mais aberto possível. Tentar fazê-lo ressoar no olhar do expectador. Não dar respostas. Fomentar perguntas. Confiar na inteligência do público.


"Descobrimos que a presença do ser humano sobre o planeta tem sido um fracasso, e que em benefício de outras espécies, o melhor que podemos fazer é acabar com a humanidade! Então lutamos contra a reprodução. Filhos Zero. Semana passada, por exemplo, presenteei minha esposa com uma vasectomia. Se todos os seres humanos fizerem o mesmo, em menos de oitenta anos o planeta já não terá que suportar nossa presença e a vida de outras espécies florescerá."


E é esse quesito ( a confiança) que mais tem me chamado a atenção nos últimos tempos. Por mais que estejamos equivocados em nossos atos, é necessário entender a "intencionalidade" das nossas ações. O niilismo presente nesse personagem de Fotomatón acaba por parecer ingênuo e cômico. O "Anarquia" quer salvar a humanidade, extinguindo-a. Será necessário? Será que não é possível agir com confiança e de maneira mais construtiva?

Obviamente o autor não acredita nessa estratégia de salvação para o mundo. Se acreditasse não terminaria o espetáculo com uma frase bastante oposta as falas deste personagem:

Vamos fazer um trato: Eu te amo e você me ama.

Vamos?





















por Max Reinert

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