O primeiro a dar a mão!



Foi a primeira vez que alguém aceitou o aperto de mão de Tio Carlos.

Oito sessões depois da estreia foi o tempo que levou para alguém dar a mão! Nada demais não fosse o personagem gay e aidético. Nada demais não fossem as pessoas preconceituosas. Nada demais, sendo teatro!

E não seria mesmo nada demais, não fosse uma já anunciada possibilidade de alguém da platéia se sentir a vontade para aceitar a mão estendida do personagem. E me faz pensar: será que as pessoas não dão a mão por preconceito? Será que dão a mão só porque é teatro? E se fosse de verdade, aceitariam a mão?

De fato, mover-se para aceitar uma mão que te pede auxílio é um gesto difícil de se fazer nos dias de hoje... Quantas pessoas nos estendem a sua mão diariamente? Para quantas oferecemos a nossa? Quantas outras recusamos arbitrária e deliberadamente?

É apenas uma reflexão, mas em que pese nossa solidariedade ou falta dela.

"E me disseram que as coisas haviam mudado, que tudo estava diferente e as pessoas... As pessoas também...
É lamentável!"
(Tio Carlos, em Fotomaton)

O personagem Tio Carlos não pede que ninguém o ajude, mas deixa claro que foi embora esperando algum amparo de sua família que - bem sabe ele - não lhe estenderia a mão sob nenhuma hipótese. E o que ele vem causando na plateia é um efeito moral, que mexe com o brio e provoca o público. Alguns ensaiam um movimento, um impulso. Outros se mantém indiferentes. A maioria permanece impassível frente à alusão que o personagem tantas vezes faz ao vírus...

Eu mesmo fico me policiando, me perguntando qual seria minha atitude. Mas o que aconteceu na sessão de ontem me faz refletir sobre qual é minha atitude frente ao que está acontecendo ao meu redor.

Eu vou mudar ou vou deixar que as coisas fiquem como estão?
Na Vida ou na Arte, o que importa agora é refletir.


Por Cristóvão de Oliveira

*na foto: o ator Cristóvao de Oliveira com o espectador Fernando - o primeiro a dar a mão!

Um comentário:

  1. Quero lhe estender a mão tb!

    vem, vem??

    =]

    tenho pensado ultimamente muito nas palavras aqui descritas... tomei a liberdade de "re-utilizar" um pensamento de Tio Carlos no meu Orkut...
    ENFIM...

    bjosss e obrigada.

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