Workshop do projeto



Uma das ações do projeto FOTOMATON é a realização de um workshop gratuito oferecido para atores e estudantes de teatro. E foi assim que nessa semana (de 04 a 08 de maio) estão ministrando Cristóvão de Oliveira e Max Reinert o workshop "O Trabalho do Ator na Construção Orgânica de Suas Ações".




Gente interessada em saber mais e trocar idéias sobre o trabalho do ator, que é o foco principal desse trabalho. Tentar entender quais são as ferramentas que o ator dispõe para estar em cena de maneira orgânica e interessante para a platéia.




A partir de sexta-feira (encerramento do workshop) postaremos aqui algumas impressões dos participantes. Aguardem!

O primeiro a dar a mão!



Foi a primeira vez que alguém aceitou o aperto de mão de Tio Carlos.

Oito sessões depois da estreia foi o tempo que levou para alguém dar a mão! Nada demais não fosse o personagem gay e aidético. Nada demais não fossem as pessoas preconceituosas. Nada demais, sendo teatro!

E não seria mesmo nada demais, não fosse uma já anunciada possibilidade de alguém da platéia se sentir a vontade para aceitar a mão estendida do personagem. E me faz pensar: será que as pessoas não dão a mão por preconceito? Será que dão a mão só porque é teatro? E se fosse de verdade, aceitariam a mão?

De fato, mover-se para aceitar uma mão que te pede auxílio é um gesto difícil de se fazer nos dias de hoje... Quantas pessoas nos estendem a sua mão diariamente? Para quantas oferecemos a nossa? Quantas outras recusamos arbitrária e deliberadamente?

É apenas uma reflexão, mas em que pese nossa solidariedade ou falta dela.

"E me disseram que as coisas haviam mudado, que tudo estava diferente e as pessoas... As pessoas também...
É lamentável!"
(Tio Carlos, em Fotomaton)

O personagem Tio Carlos não pede que ninguém o ajude, mas deixa claro que foi embora esperando algum amparo de sua família que - bem sabe ele - não lhe estenderia a mão sob nenhuma hipótese. E o que ele vem causando na plateia é um efeito moral, que mexe com o brio e provoca o público. Alguns ensaiam um movimento, um impulso. Outros se mantém indiferentes. A maioria permanece impassível frente à alusão que o personagem tantas vezes faz ao vírus...

Eu mesmo fico me policiando, me perguntando qual seria minha atitude. Mas o que aconteceu na sessão de ontem me faz refletir sobre qual é minha atitude frente ao que está acontecendo ao meu redor.

Eu vou mudar ou vou deixar que as coisas fiquem como estão?
Na Vida ou na Arte, o que importa agora é refletir.


Por Cristóvão de Oliveira

*na foto: o ator Cristóvao de Oliveira com o espectador Fernando - o primeiro a dar a mão!

Pela web IV



Texto publicado no blog Figurino e Cena de Paulo Vinicius, sobre nosso espetáculo:

Fotomaton tem direção cênica bem desenhada e alguns recursos visuais que dão acabamento à interpretação de Cristóvão de Oliveira. O ator representa o personagem título e mais algumas pessoas da sua família como a mãe, o pai, um tio Gay e uma prima que vive fora do país. No conjunto, é uma boa interpretação, porém os personagens femininos têm força maior quanto à interpretação. Atribuo esse critério de valor pelo fato de terem sido construídos como caricaturas. São cômicos e mesmo nas entrelinhas do texto eles instauram pausas dramáticas que ganham a platéia e contrastam com o tom sério e mais linear dos personagens masculinos.
A plasticidade é garantida pelo cenário bem executado que, somado á iluminação bem desenhada e também bem operada, dá ao espetáculo o movimento que rompe com qualquer possibilidade de monotonia.
A direção é assinada por Max Reinert, o cenário e os adereços por Alfredo Gomes, a iluminação por Bruno Girello, o figurino pelo próprio Cristóvão de Oliveira e a trilha sonora por Chico Nogueira que faz sempre boas escolhas e sempre acerta no tom.
O texto é do autor venezuelano Gustavo Ott e é inédito no Brasil. O monólogo apresenta um conflito familiar e caótico, sob o ponto de vista de um homem que morreu vítima da indiferença e insensibilidade de seus parentes.
Fotomaton foi um dos projetos contemplados pelo edital de ocupação do Teatro Novelas Curitibanas da Fundação Cultural de Curitiba neste ano de 2009 e é uma boa opção que pode ser vista até o dia 17 de maio. Maiores informações em http://www.fotomatoncuritiba.blogspot.com/

Monólogos são apenas reflexo da crise?

Excelente reflexão de Marcos Damigo, encontrada no blog Sobre Teatro, de sua autoria. Vale a viralização:

"Estamos vivendo uma explosão de atores fazendo monólogos. Bárbara Heliodora se diz revoltada com essa situação, que julga aviltante para o teatro. Sergio Britto, em entrevista - ainda inédita - que fiz com ele, confessa que, com exceção deste Beckett, faz monólogos por falta de opção.

Será que o monólogo está tão em alta apenas por uma dificuldade em produzir peças com mais atores em cena? Essa afirmação soa um pouco simplista. Temos agora mesmo em cartaz exemplos de ótimos trabalhos com apenas um ator em cena.

Longe de querer esgotar essa lista, mas só para dar um panorama do que estou dizendo, aí vão alguns monólogos que estão ou estiveram em cartaz ultimamente:

Celso Frateschi em Sonho de um Homem Ridículo, a partir do conto de Dostoievski. Ricardo Bittencourt em O Homem da Tarja Preta, de Contardo Calligaris. Sara Antunes, do Grupo XIX de Teatro, em Negrinha, que ela mesma adaptou de um conto do Monteiro Lobato. Beth Farias estreando Shirley Vallentine, dirigida por Guilherme Leme, que também está só em cena em O Estrangeiro. Alberto Guzik está no Satyros com o Monólogo da Velha Apresentadora. Marco Antônio Pâmio estreia em breve O Mediano, texto de Otavio Martins, que foi indicado ao prêmio Shell em São Paulo por sua atuação em A Noite Antes da Floresta, monólogo de Koltès. Por falar em Shell, Clarice Niskier ganhou o do Rio por Alma Imoral, Edwin Luisi também, por Eu Sou Minha Própria Mulher, e Marat Descartes ganhou o de São Paulo por Primeiro Amor, adaptado de uma novela de Beckett, autor que está sendo encenado em monólogo de Sergio Britto, na Última Gravação de Krapp e Ato Sem Palavras número 1, que foi feito recentemente por Antonio Petrin com direção de Francisco Medeiros, que dirigiu Otavio no Koltès. César Augusto, da Cia. dos Atores, dirigiu Álamo Facó em Talvez, e Marcelo Olinto, seu parceiro na mesma companhia, foi dirigido por Gerald Thomas em Bate Man, ambos no projeto Auto Peças, que a companhia fez ano passado. Roberta Estrela D’Alva, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, escreveu e atuou, no estilo spoken words, Vai Te Catar. Elisa Lucinda, atriz e poeta, leva seus próprios textos à cena no iluminado Parem de Falar Mal da Rotina, que volta em cartaz mais uma vez. Na linha dos grandes sucessos de bilheteria, além da já citada Clarice Niskier, Paulo Gustavo foi indicado ao Shell no Rio por Minha Mãe é uma Peça, onde ele faz uma mulher, assim como Eduardo Martini em I Love Neide, que aproveitou o sucesso da personagem criada para a televisão. A também televisiva Luana Piovani fez Pássaro da Noite, e até Fernanda Montenegro se rendeu ao monólogo, e estreou Viver Sem Tempos Mortos, sobre a vida e a obra de Simone de Beauvoir. Isso sem contar asstand up comedies que pipocam no Rio e em São Paulo! E me desculpem se deixei de mencionar alguém.

Existe um certo preconceito contra os monólogos. Mas, sem querer generalizar, vejo uma tendência interessante nesse fenômeno, de atores com um projeto pessoal, que têm algo a dizer. Quando um ator encontra essa chama dentro de si, e se empenha na concretização deste sonho, é possível que o resultado seja uma recompensa tanto para ele quanto para o público. Pois tenho percebido que o que mais contribui para um teatro pouco expressivo é justamente a falta dessa conexão íntima e vital do ator com o que ele está fazendo.

Para citar alguns desses trabalhos que eu assisti e estão em cartaz: em Negrinha, Sara Antunes conduz o público com extrema delicadeza e riqueza de detalhes. A atriz passou meses sozinha na sala de ensaio, visitada às vezes pelo diretor Luiz Fernando Marques e o diretor de arte Renato Bolelli Rebouças. E o resultado desse mergulho se vê na composição surpreendente que a atriz, branca, faz de uma menina negra do século XIX.

Em O Estrangeiro, Guilherme Leme foi capturado pelo personagem quando o conheceu através do autor da adaptação do famoso romance de Camus, o dinamarquês Morten Kirkskov. Ele optou, junto com a diretora Vera Holtz, por uma encenação limpa e concisa, oposta à de Negrinha que é bem mais barroca, mas também muito interessante. Na peça, cria-se um jogo entre o que é visto em cena, limpo e minimalista, com a história que é contada, de um Marrocos cheio de sol e suor.

Minha Mãe é uma Peça foi escrita pelo próprio ator Paulo Gustavo, que interpreta uma mãe neurótica numa peça que começou sem tantas pretensões no pequeno Teatro Cândido Mendes, de lá ganhou grandes palcos e há anos não sai mais de cartaz. A peça é tratada como uma comédia, mas o riso talvez venha da atuação radicalmente contundente com que ele faz essa mulher só e frustrada.

Outro caso digno de nota é o de Clarice Niskier, que também já está com sua Alma Imoral há algum tempo pelo eixo Rio-São Paulo. Ela optou por mergulhar fundo num livro que a tocou profundamente. O curioso é que não há drama no livro, não há uma história, no espetáculo ela simplesmente compartilha, com domínio impressionante, as reflexões do autor Nilton Bonder com o público, que sai do teatro melhor e mais sábio.

Nessa mesma linha de um teatro revigorante e que não cansa de lotar teatros Brasil afora, Parem de Falar Mal da Rotina, de Elisa Lucinda, é outra pérola, onde ela propõe ressignificar o cotidiano, transformando atos banais em momentos de graça e prazer. É imperdível.

Em breve, Beth Faria e Marco Antonio Pâmio estreiam seus monólogos em São Paulo. Ela em Shirley Valentine, e ele em O Mediano. O que será que nos aguarda? Por estes poucos exemplos, talvez tenham razão os que acusam os monólogos de serem atos desesperados de atores sedentos por estarem no palco. Mas sinto também que talvez esse desespero prove ser mais um remédio que uma doença, para que o teatro seja cada vez mais vibrante e provocador.

E você, o que acha?"


E você, o que acha?

Pela web III


Pela web - II !


É indecente, imoral ou engorda?


Certamente quando, em 1999, Gustavo Ott escreveu o texto FOTOMATON em Caracas, na Venezuela, ele tinha o desejo de questionar lugares/instituições/relações que constroem o status-quo do nosso tempo. Como todo artista que se preze e se proponha a cumprir seu papel no sistema em que vivemos, ele questiona através do seu trabalho/texto o que já é aceito como "normal" ou "natural" pela sociedade. Ele "revela" situações que são "comuns" no dia-a-dia, mas não são "divulgadas" porque não é "bonito" falar sobre.

Assim, a prima racista discorre seu veneno preconceituoso contando sua experiência em um estádio de futebol; o tio que mora em Nova Yorque questiona a hipocrisia reinante em seu país de origem; o irmão anarquista propõe o aniquilamento da espécie humana como única saída para o planeta; o pai e a mãe egocêntricos só se preocupam com seus problemas e mal dão conta da morte do filho. Tudo isso escrito com muita ironia e bom humor, onde conseguimos enxergar nossas próprias falhas e nos divertirmos com elas.

O texto de Gustavo Ott e, conseguentemente o espetáculo que estreamos nessa quinta-feira, não se utiliza de nudez, nem de insinuações de sexo, nem de consumo de drogas. Nada é explicito. Nada é de mal gosto. Falamos sobre esses assuntos, assim como discutimos de futebol e problemas cotidianos. O que é explícito e possível de enxergar é que muitos desses assuntos já foram levantados em filmes e outras produções culturais.

Bom, quase todos conseguem enxergar... porque segundo a juíza de direito Lídia Munhoz Mattos Guedes "o conteúdo da peça é inadequado para menores de 18 anos, uma vez que os diálogos são impróprios para infantes e adolescentes e contrariam a moral e os bons costumes, bem como atenta contra os artigos 6o., 17 e 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente". Claro... tudo isto "afim de assegurar que estes não sejam submetidos a situações constrangedoras".

Eu sinceramente acho que essa senhora não deve nem andar assitindo TV, mas "a palavra do Rei é Lei!"... Dessa forma, se você quiser trazer seu filho para assistir ao espetáculo pense duas vezes: Você terá que assinar uma declaração para que ele possa entrar no Teatro Novelas Curitibanas.

É nesse momento em que eu vejo como algumas coisas são tão parecidas entre o Brasil e a Venezuela... e como diz o tio Carlos (um dos personagens do espetáculo): "E me disseram que as coisas haviam mudado, que as pessoas mais ainda, que havia mais cultura. É lamentável!"


por Max Reinert
foto de Chico Nogueira

Pela web!


Release


Texto inédito no Brasil estreia no Teatro Novelas Curitibanas

A ALAMEDA Cia. Teatral estreia, dia 16 próximo, o espetáculo FOTOMATON, texto do autor venezuelano Gustavo Ott, inédito no Brasil.

Resultado do projeto selecionado pelo Edital de Ocupação do Teatro Novelas Curitibanas, pela Fundação Cultural de Curitiba através do Fundo Municipal de Cultura, FOTOMATON é um espetáculo-solo dirigido por Max Reinert – da Téspis Cia de Teatro, de Santa Catarina – que estréia seu primeiro trabalho em Curitiba.

Fruto do contato direto da ALAMEDA Cia. Teatral e do diretor com Gustavo Ott, a montagem brasileira de “FOTOMATON” traz o ator Cristóvão de Oliveira atuando em oito personagens que representam um núcleo familiar desgastado e falido.

O monólogo traz à tona um conflito familiar e caótico, sob o ponto de vista de um homem que morreu vítima da indiferença e insensibilidade de seus parentes. Ali, no necrotério, esperando alguém para reclamar o corpo enquanto o legista não chega para fazer a autópsia, ele vai dissecando sua própria família. É uma reflexão profunda das personalidades de nossa sociedade, de todos os monstros e anjos que habitam nela, uma descrição sarcástica e jocosa assim como uma sátira constante do núcleo que a forma: a família.

Gustavo Ott imprime, em sua dramaturgia, elementos que convergem diretamente com aspectos estéticos e de linguagem que interessam ao grupo, como o nonsense, a frustração, o caos urbano e a violência velada, mais especificamente em “FOTOMATON” sobre o que ele denomina “o estilo macabro latino-americano”.

A crueza de sua escrita se percebe no momento em que observamos a forma como ele trata seus personagens, dotados de grande profundidade e complexidade humanas. Sendo assim, jogos simples, como os encontrados em "Fotomaton", servem para esconder/revelar distintas facetas da sociedade, construindo um painel sarcástico e extremamente verossímil dos tempos atuais, principalmente no que tange às estruturas familiares.

Debruçados sobre a dramaturgia de Gustavo Ott, a ALAMEDA Cia. Teatral já investiu na montagem de “Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas” (2008-2009) e na leitura dramática de “Dois Amores e um Bicho” (2006), ambos dirigidos por Cristóvão de Oliveira – que já traduziu outros textos do venezuelano como “120 Vidas x Minuto” e “Luzes do Século”. Além disso, o grupo prepara um projeto de pesquisa sobre a dramaturgia de Gustavo Ott para o próximo ano, em que realizará a montagem de pelo menos dois textos inéditos.

“FOTOMATON” é um texto agraciado com o Prêmio Municipal de Teatro (1997) e Prêmio Casa Del Artista (1999) e, em 2002, foi eleito para participar do Programa de Dramaturgia de “La Mousson D’Ete en Francia” e de “La Mousson a Paris” na Commedie Française, dirigido por Michael Didym.

Encenar este texto, para a ALAMEDA Cia. Teatral, representa levar essa pesquisa dramatúrgica para além das teorizações e da análise de texto, experimentando uma escrita cênica que dialogue com a linguagem experimentada pelo grupo em seu repertorio, em que privilegiamos o trabalho de ator.


SERVIÇO
Fotomaton – texto de Gustavo Ott
Direção de Max Reinert
Atuação de Cristóvão de Oliveira
No Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavalcanti, 1222)
De 16 de abril a 17 de maio
Quinta a sábado às 21h / domingos às 19h
O ingresso é uma lata de leite em pó


*As duas primeiras fotos são de Alice Rodrigues e as duas outras de Chico Nogueira.

O Duplo


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Fizemos nesta sexta-feira o molde em gesso do que virá a ser o "cadáver" de Fotomaton.

Foi uma experiência, no mínimo, estranha.